Hoje,
a indústria do medo alimenta o consumismo. O jornalismo, mantendo-se no
padrão de sempre, reduzindo o mundo às catástrofes do dia, é um dos
principais fortalecedores do medo na população. A violência, as
desgraças, as falcatruas e os esportes para finalizar os telejornais,
são apresentados como realidade, como se o mundo se resumisse a essa
percepção distorcida que convence bilhões de pessoas diariamente. De que
forma, na prática, isso alimenta o consumismo? Com medo, ficamos mais
em casa. Em casa, para a população de mais alta renda (os que mais
interessam para as vendas), com TV a cabo, videogames, entregas à
domicílio, internet etc.
Vendo o mundo por intermédio de telas, mas “protegidos”.
E
o que as telas nos mostram? Mais violência e tragédias, gerando um
desejo de ainda mais proteção, para evitar essa parte sinistra, ruim da
vida. A opção para se sair de casa com segurança nas grandes cidades
acaba sendo só uma: shoppings centers – os templos do consumo, onde
podemos comprar aquilo tudo que pensamos desejar. Esquecendo, assim, da
sabedoria de Epicuro: o que realmente precisamos para a felicidade é
simples e fácil de obter (“A riqueza exigida pela natureza é limitada e
facilmente arranjada; aquela, pelo contrário, que ambicionamos possuir
num tolo desejo, chega ao infinito.”(27) ).
Isso
graças à avalanche de propagandas com que somos bombardeados constante e
ininterruptamente. O filósofo suíço Alain de Botton, em um de seus belos programas
da série “Filosofia para o dia-a-dia”, coloca uma equipe de Marketing
para fazer propagandas (ou seriam anti-propagandas?) com as idéias
epicuristas. Achei marcante um outdoor que inventaram com uma bela casa à
venda, com uma linda paisagem e todos os recursos da propaganda
utilizáveis, porém, em letras pequenas, no canto da imagem, a frase: “Felicidade não incluída”.
Voltando ao tema do medo, ele gera uma vontade de certezas, de algo
firme, que muitas vezes leva as pessoas a procurarem refúgios nas
religiões e seus dogmas. Vivemos uma indústria de igrejas enriquecendo
também com o medo de seus fiéis, no Brasil e em boa parte do mundo.
Epicuro desenvolveu sua filosofia contra o medo (e o consumismo que dele
resulta).
Sua
filosofia produz um homem equilibrado, que usa a razão e é livre dos
padrões das maiorias. Esse tipo de homem é cada vez mais raro em nosso
tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário