quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O pensamento de Epicuro na realidade contemporânea


Hoje, a indústria do medo alimenta o consumismo. O jornalismo, mantendo-se no padrão de sempre, reduzindo o mundo às catástrofes do dia, é um dos principais fortalecedores do medo na população. A violência, as desgraças, as falcatruas e os esportes para finalizar os telejornais, são apresentados como realidade, como se o mundo se resumisse a essa percepção distorcida que convence bilhões de pessoas diariamente. De que forma, na prática, isso alimenta o consumismo? Com medo, ficamos mais em casa. Em casa, para a população de mais alta renda (os que mais interessam para as vendas), com TV a cabo, videogames, entregas à domicílio, internet etc. 

Vendo o mundo por intermédio de telas, mas “protegidos”. 
E o que as telas nos mostram? Mais violência e tragédias, gerando um desejo de ainda mais proteção, para evitar essa parte sinistra, ruim da vida. A opção para se sair de casa com segurança nas grandes cidades acaba sendo só uma: shoppings centers – os templos do consumo, onde podemos comprar aquilo tudo que pensamos desejar. Esquecendo, assim, da sabedoria de Epicuro: o que realmente precisamos para a felicidade é simples e fácil de obter (“A riqueza exigida pela natureza é limitada e facilmente arranjada; aquela, pelo contrário, que ambicionamos possuir num tolo desejo, chega ao infinito.”(27) ). 
Isso graças à avalanche de propagandas com que somos bombardeados constante e ininterruptamente. O filósofo suíço Alain de Botton, em um de seus belos programas da série “Filosofia para o dia-a-dia”, coloca uma equipe de Marketing para fazer propagandas (ou seriam anti-propagandas?) com as idéias epicuristas. Achei marcante um outdoor que inventaram com uma bela casa à venda, com uma linda paisagem e todos os recursos da propaganda utilizáveis, porém, em letras pequenas, no canto da imagem, a frase: “Felicidade não incluída”. Voltando ao tema do medo, ele gera uma vontade de certezas, de algo firme, que muitas vezes leva as pessoas a procurarem refúgios nas religiões e seus dogmas. Vivemos uma indústria de igrejas enriquecendo também com o medo de seus fiéis, no Brasil e em boa parte do mundo. Epicuro desenvolveu sua filosofia contra o medo (e o consumismo que dele resulta). 
Sua filosofia produz um homem equilibrado, que usa a razão e é livre dos padrões das maiorias. Esse tipo de homem é cada vez mais raro em nosso tempo.

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